O Crítico de Arte Mario Margutti fala da Mala da Fama...


A mala da fama que Jiddu Saldanha inventou é muito fácil de carregar. Ninguém vai perseguir você. Nem jornalistas, nem tietes, nem psicopatas.
O único paparazzo interessado será o próprio Jiddu, que vai fotografar você segurando a mala, para depois colocar sua foto no pequeno álbum-galeria-da-fama que faz parte do projeto.
Andy Wahrol prometeu 15 minutos de fama para todo mundo. No futuro.
Esse futuro já chegou e já passou. Agora, na velocidade alucinante deste mundo internáutico globalizado, tudo que podemos conseguir, no máximo, é um flash de fama.
Uma foto. Umazinha só. Que nos iguala aos demais participantes do álbum. Mas que faz toda a diferença. Afinal, ela bem que nos coloca acima de todos aqueles pobres mortais que não tiveram o privilégio de segurar a preciosa mala, esse objeto onírico-conceitual que Jiddu aprontou. Pequena por fora, mas repletinha de significados estéticos-existenciais por dentro...
Vamos deixar a explicação desses múltiplos significados para os psicólogos sociais (talvez sejam mais adequados os colunistas sociais...). E vamos esquecer dos perplexos críticos das artes contemporâneas, pois eles já perderam suas bússolas paradigmáticas faz é tempo. Se algum poeta quiser se aventurar...
Bem melhor é cada um dar o significado pessoal que bem entender a essa mala colorida que Jiddu nos deu de presente, às vésperas dos apagões que vão obscurecer nossa já tão frágil famazinha. Pelo menos ela chegou deliciosamente de surpresa em nossas brasileiras vidas...
Jiddu sabe que está mexendo com a auto-estima das pessoas. É impossível segurar a mala sem fazer aquela pose discreta, de Napoleão antes de Waterloo. Sem que nossos recônditos e esquecidos sonhos de grandeza saiam lá dos porões da alma só para dar uma espiadinha no mundo aqui de fora... Sem que nossa consciência olhe de soslaio no espelho, procurando depressinha nossas melhores (e altamente questionáveis) qualidades pessoais. A glória em pedra sabão é quando a gente vê a nossa foto na galeria portátil-itinerante dos eleitos... Os argentinos que me perdoem, mas que o nosso egozito fica inflado, ah, lá isso fica!
A mala da fama que Jiddu inventou é alto astral. Recomendamos seu uso urgente para os estressados e deprimidos, FHC, ACM, todos os endividados pelo FMI, os futuros usuários das empresas estatais que estão prestes a ser privatizadas, os próximos candidatos à Presidência da República, as emergentes que nunca saíram na coluna da Danuza... (é melhor parar por aqui, haja papel para essa lista, bom é ganhar mais um flashzinho de fama por ser indivíduo ecológicamente correto...)...
Não tenha medo da vertigem da fama, que de todas as drogas é certamente a que mais sobe à cabeça! Se o primeiro flash não ficar bom, Jiddu faz outro. Só para garantir. Pegue a mala, faça aquela expressão de genialidade displicente que só você consegue e... boa viagem!